09/10/2019
1913: CHARLES RICHET

Artigo científico escrito por:
Eugenio Pagnussat Neto 
Fernanda S. Quevedo 
Faculdade de Medicina UPF

RESUMO


Esta pesquisa acerca dos trabalhos que grandes estudiosos realizaram e pelos quais foram reconhecidos através do Prêmio Nobel de Medicina busca compreender os avanços na área da saúde. Nosso estudo, em particular, é sobre a descoberta de Charles Robert Richet. Homem completamente dedicado à ciência, Richet recebeu o Prêmio Nobel de Medicina em 1913 por seus estudos que desvendaram os mecanismos da Anafilaxia. Suas contribuições foram de grande extensão para a ciência, incluindo estudos que melhoraram a compreensão das funções gástricas, do sistema imune e algumas das funções cerebrais. Este médico enriqueceu a ciência com idéias e conhecimentos novos e sua contribuição sobre anafilaxia tem sido, desde então, carregada para o campo da área médica.
Palavras-chave: Prêmio Nobel, Charles Robert Richet, Anafilaxia

ABSTRACT

This research concerning the works that great studious had carried through and for which had been recognized through the Prize Nobel of Medicine searches to understand the advances in the health area.  Our study, in particular, it’s on the discovery of Charles Robert Richet.  Completely dedicated man to science, Richet received the Prize Nobel of Medicine in 1913 for its studies that had unmasked the mechanisms of the Anaphylaxis.  Its contributions had been of great extension for science, including studies that had improved the understanding of the gastric functions, of the immune system and some of the cerebral functions.  This doctor enriched new science with ideas and knowledge and his contribution on anaphylaxis has been, since then, loaded for the field of the medical area.
Key-words:  Prize Nobel, Charles Robert Richet, Anaphylaxis

INTRODUÇÃO

O presente trabalho consiste em uma análise bibliográfica da vida e obra do pesquisador francês Charles Robert Richet, médico fisiologista condecorado com o Prêmio Nobel de Medicina de 1913, em conseqüência de seus estudos sobre anafilaxia.
O propósito deste trabalho é conhecer e compreender os métodos e resultados das pesquisas de Charles Richet sobre anafilaxia, tendo em vista suas numerosas aplicações na área médica.  Tem como finalidade proporcionar um maior conhecimento a respeito da história da profissão médica e suas mais recentes descobertas, além de divulgar o mais cobiçado prêmio científico-cultural do mundo: o Prêmio Nobel.
Os métodos pedagógicos empregados na elaboração deste artigo foram consultas em acervos disponibilizados na internet pela Fundação Alfred Nobel - administradora do Prêmio Nobel - além de pesquisas bibliográficas em publicações sobre Fisiologia.

DESENVOLVIMENTO

Biografia
O descobridor da anafilaxia e sua ação nos organismos - Charles Robert Richet - nasceu em 25 de agosto de 1850, em Paris. Era filho de Alfred Richet - professor na Faculdade de Medicina de Paris - e de Eugenie, neé Renouard. Richet estudou em Paris, tornando-se doutor de medicina em 1869, doutor de ciências em 1878 e professor de fisiologia em 1887 na faculdade de Medicina, em Paris. Além de professor, foi editor da Revue Scientifique por 24 anos e co-editor do Journal de Physiologie et de Pathologie Générale.    
O pesquisador também contou com a publicação de vários trabalhos em fisiologia, fisiologia química, patologia experimental e psicologia patológica e normal. (Ibid.)    
Na área da fisiologia, sua maior contribuição foi a descoberta dos mecanismos da Anafilaxia – palavra inventada por ele para designar a sensibilidade desenvolvida por um organismo depois de ter sido dado a ele uma injeção parenteral de uma substância de colóide, de proteína ou de toxina. A maioria dos seus trabalhos fisiológicos foi publicada na Faculté de Médecine de Paris de Travaux du Laboratorie. 
   
Sua curiosidade científica estava aberta a tudo que lhe parecesse interessante, tanto é que uma de suas dedicações está no campo dos fenômenos sobrenaturais, passando a ter um grande interesse pelo espiritualismo. Também foi romancista, poeta e dramaturgo, realizando alguns trabalhos dramáticos. Grande pacifista atuou durante a Primeira Guerra Mundial e ainda conta com seu nome na lista de Maçons Ilustres do mundo. (Ibid.)
Em 1877, casou-se com Amélie Aubry, com quem teve cinco filhos (um deles dedicando-se também à medicina) e duas filhas. Charles Robert Richet morreu em Paris, no dia 4 de dezembro de 1935, aos 85 anos. (Ibid.)
Pesquisa
Anafilaxia é um neologismo que o próprio Richet inventou em 1901, na suposição de que uma idéia nova chama uma palavra nova na língua. Trazendo do grego a palavra phylaxis – proteção – colocou na nova palavra justamente um significado oposto: não proteção ou hipersensibilidade.
A anafilaxia tem numerosas aplicações na medicina, sendo atualmente uma parte importante na patologia. O pesquisador mostrou, de fato, que a injeção parenteral da substância da proteína modifica profunda e permanentemente a constituição química dos líquidos do corpo. (Ibid.)
Ele quis mostrar que além dos casos de sensibilidade a certas drogas e da estabilidade inalterada delas, há ainda uma terceira possibilidade: uma hipersensibilidade; em que uma primeira injeção, em vez de proteger o organismo, o deixa mais frágil – isto é anafilaxia – e estas foram as circunstâncias pelas quais o pesquisador observou tal fenômeno. Os sintomas anafiláticos têm uma grande variação, embora as diferenças sejam de acordo com o animal experimental e não com o tipo de veneno usado. (Ibid.)
O fisiologista fez seu estudo utilizando-se de cães, com o objetivo maior da identificação dos sintomas. Observou que no cão, 4 graus de anafilaxia podem existir e classificou-os de acordo com a intensidade. No menos intenso, o principal sintoma foi prurido, agitação e movimentos descontrolados. O próximo estágio se caracterizou também por prurido, mas desta vez mais violento, aparecendo logo em seguida vários outros sintomas: respiração acelerada, queda de pressão arterial, ritmo cardíaco acelerado, vômito, diarréia de sangue e tenesmo retal. Já no terceiro grau, ocorreu uma depressão do sistema nervoso e os sintomas ficaram aumentados. O animal apresentou sinais de agitação, seguido por salivação, vômito, defecação e micção, progredindo para fraqueza muscular, depressão respiratória e colapso circulatório. Este ataque brutal do sistema nervoso recebeu o nome de Choque Anafilático. No quarto grau de anafilaxia, os sintomas se tornaram tão graves ao ponto de em uma hora tornar a cobaia inoperante, ocorrendo a morte durante a noite que segue a injeção. (Ibid.)
No homem, os efeitos são semelhantes aos dos animais, apresentando urticária, eritema, prurido, pré-síncope, náusea, vômito, hipertermia, edema sobre a área inteira da pele ou apenas localizado. É como se o veneno tivesse produzido um efeito sobre o sistema nervoso, especialmente nos nervos vasomotores ou nos nervos tróficos da pele. E então, se examinam as substâncias aptas a desenvolver um estado anafilático. (Ibid.)
Em abril de 1907, Richet mostrou que injeção com soro de cão anafilactizado induz um estado anafilático em cão não tratado, como se o soro contivesse a substância tóxica com o efeito desencadeante. Com actino-congestina, a experiência é bem definida, pois quando a dose é inofensiva causam a morte de cães não anafilactizados, mas que receberam o soro de cães anafilactizados. Isto é a anafilaxia passiva. (Ibid.)
Já a anafilaxia in vitro permitiu ao pesquisador, sintetizar o veneno liberado durante uma injeção desencadeadora sendo que este veneno teria efeitos extremamente fortes, causando a morte em cerca de 36 horas. Assim, a mistura do antígeno com o sangue de um animal anafilactizado por este mesmo antígeno produziria um veneno violento e forte que seria diferente do próprio antígeno. Então Richet, para avaliar esta reação, mencionou a experiência de Claude Bernard realizada com amêndoas amargas. Tais amêndoas continham as substâncias amigdalina – inofensiva – e emulsina – totalmente inofensiva. Os organismos sobreviviam à injeção de ambas. Mas a emulsina tinha a capacidade de quebrar a molécula de amigdalina liberando ácido hidrociânico, que era um dos gases mais tóxicos que se conhecia. Assim, se ao animal fosse dado amigdalina com emulsina, tal ácido circularia no sangue e iria causar a morte de forma rápida. Separadas, as substâncias eram inofensivas; juntas, eram fatais. Então, chegou-se à suposição de que existe uma substância que anafilactizaria o sangue, a qual se chamou toxogenina que, por estar presente no sangue, seria uma substância inofensiva. Mas se a toxogenina fosse misturada com o antígeno, um novo veneno seria produzido e as conseqüências poderiam ser sérias. O estudioso propôs que o veneno derivado fosse chamado de apotoxina, formulando uma reação direta:
toxogenina + antígeno = apotoxina
Este médico estabeleceu também um relacionamento entre anafilaxia e leucocitose, conduzindo experiências novamente em cães. No cão normal, a concentração leucocitária é em média de 100 por centésimo de milímetro cúbico, com variações que vão de 70 a 130. Mas em animais que foram anafilactizados, pode-se verificar após um período de seis meses que a concentração de leucócitos excedia freqüentemente a 200. Não houve nenhuma reação mais visível que a da leucocitose, que pode ser verificada na experiência que Richet realizou com a ação do clorofórmio em cães: em um cão cloroformizado pela primeira vez, o número de leucócitos no sangue não se altera, mas se houver uma segunda cloroformização um mês após a primeira, aparecerá uma leucocitose severa que pode alcançar até 250 leucócitos. (Ibid.)
Os fenômenos anafiláticos foram os assuntos de muita pesquisa médica. Dois métodos de anafilaxia estavam em aberto: um em que se verificava a sensibilidade do paciente através de soro específico; outro em que o soro do paciente era injetado em cobaias para verificar as possíveis reações. (Ibid.)
Ao falar de experiências negativas, Richet citou o que ele chamou de anafilaxia homogênica. O objetivo era descobrir se a injeção em um animal com o sangue de outro animal provocaria uma forte reação maior na segunda do que na primeira injeção, o que parece não ter tido grande valor, pois o sangue de um animal injetado em outro de mesma espécie era inofensivo. (Ibid.)
Há também uma anafilaxia que vem após a ingestão pelo sistema digestivo: anafilaxia alimentar. Esta foi caracterizada pela entrada de antígenos no organismo através do tubo digestivo. Mas os estudos acerca de anafilaxia alimentar, na época, não tiveram muita importância para a medicina clínica. (Ibid.)
 Este grande pesquisador dizia que
[...] cada ser vivo, embora apresentando grande semelhança entre seres de mesma espécie, tem suas próprias características de modo que ele seja único. Os organismos vivos existem em estado de proteção e parece absurdo que uma disposição orgânica possa fazer os seres mais frágeis, mais suscetíveis aos venenos, porque na maioria dos casos, tudo em seres vivos parece disposto a assegurá-los mais resistência. Se substâncias heterogêneas fossem separadas em nossas células e misturadas aos nossos humores, isto seria o fim da constituição química de cada espécie animal, que é o fruto da evolução lenta das gerações e todo o processo que foi conseguido com a seleção e a hereditariedade seria perdido. Nesta consideração, não importa se o indivíduo se torna mais vulnerável, pois algo mais importante do que a salvação da pessoa é a preservação integral da raça. Talvez anafilaxia seja uma matéria pesarosa para o indivíduo, mas é necessária à espécie para defendê-la de encontro ao perfil de adulteração. A anafilaxia é um termo universal da defesa de encontro à penetração de substâncias heterogêneas no sangue, quando elas não podem ser eliminadas.

CONCLUSÃO

O presente trabalho nos leva a concluir que é de extrema relevância deter algum conhecimento básico sobre os processos anafiláticos, pois, apesar de encontrarmos baixas estatísticas de morte, podem ter conseqüências fatais. 
Conclui-se também que, sendo o processo de construção do conhecimento médico relativamente recente, é interessante entender como pensavam pesquisadores do início do século passado e quais os métodos usados para sua pesquisa.
Indubitavelmente, o presente artigo tem função de divulgação de conhecimentos a respeito de um tema desconhecido para a grande maioria das pessoas: o processo anafilático. É relevante também pelo fato de transmitir conhecimentos sobre o pesquisador do fenômeno Anafilaxia e do prêmio que o consagrou como um dos maiores cientistas da história.
Recomenda-se, primeiramente, a leitura deste artigo para profissionais de toda a área da saúde, principalmente os profissionais e estudantes da área médica, pesquisadores e fisiologistas. Em segundo lugar, indica-se a leitura deste artigo para todos aqueles que porventura se interessam em compreender os processos de conhecimento da história médica, e de construção de um prêmio científico que desde 1900 vem consagrando grandes nomes nas mais diversas áreas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Nobel lectures, Physiology or Medicine 1901-1921, Elsevier Publishing Company, Amasterdan, 1967 –   disponível em  . Acesso em: 11 ago. 2005.
GUYTON, Arthur C.; HALL, John E. Tratado de Fisiologia Médica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.
RAUBER, Jaime José et al. Apresentação de trabalhos científicos: normas e orientações práticas. 3. ed. Passo Fundo: Universidade da Passo Fundo, 2003.
Orientadores:
Evânia Araújo
Jorge Salton
 

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